Inês Pereira é uma moça de poucas posses que está cansada de só fazer os pequenos trabalhos que sua mãe lhe pede. No início da peça, ela é mostrada reclamando, desiludida. Quer casar, arranjar um marido galante, discreto e que saiba cantar. Logo chega a mãe, que estava na missa e a surpreende parada, descontente da vida; ela ralha com a filha, dizendo que se não trabalhar, não arranjará nunca um bom marido. As duas são interrompidas pela alcoviteira Lianor Vaz. A arrumadeira de casamento explica que passeava tranqüila quando foi abordada por um clérigo lascivo! Ela narra todo o seu esforço para desvencilhar-se do religioso devasso; graças a um almocreve (um pastorzinho), consegue escapar. Terminando seu ridículo relato, Lianor pergunta se Inês está comprometida com alguém, pois ela tem boas notícias de um possível pretendente. No entanto, a moça possui uma condição: Porém, não hei de me casar/ senão com homem avisado; ainda que pobre e pelado, seja discreto em falar.
Pero Marques é o nome de um filho de camponês rico, que lhe manda uma carta apaixonada através de Lianor. Inês acha-a tola, mas aceita que o estafermo apareça em sua casa, para poder dar boas risadas.
Quando esse surge, age de forma tímida, fazendo perguntas despropositadas (o preço de uma cadeira que estava a um canto); a mãe se interessa pelas suas posses, que são boas por ele ser o morgado; diz ter trazido pêras que deveriam estar no chapéu, mas essas sumiram; enquanto as procura, faz com que Inês segure os arreios do animal com que viera. Percebendo que fora deixados a sós com a moça, deseja ir embora, para que não falem mal deles; Inês maliciosa, escarnece de sua honestidade: Quão desviado este está/ Todos andam por caçar/ suas damas sem casar/ e este... Inês o manda embora e Pero promete não se casar ate que ela se decida em casar consigo.
A mãe chega e pergunta pelo camponês, desolada, Inês reforça sua resolução: Mãe, eu não me casarei/ senão com homem discreto/ e assim vo-lo prometo/ ou antes o deixarei/ que seja homem mal feito/ feio, pobre, sem feição, como tiver discrição/ não lhe quero mais proveito.
Chegam então dois patéticos judeus casamenteiros, Latão e Vidal, que haviam sido contratados pela própria Inês no dia anterior. Os dois são muito engraçados, pois sempre um complementa o que o outro começa, ou então falam juntos, de modo que às vezes nada se compreendia daquilo que tentavam dizer. A moça fica impaciente com eles, e pede que se desembaracem. Dizem eles que depois de muito rodar, e com muitos tratar, arranjaram um escudeiro tocador de viola, muito galante.
Aproxima-se, então, o escudeiro Brás da Mata, com um moço que lhe carrega alta a capa. Brás pede que o moço, um sujeito muito gozador que faz apartes a todo momento, não diga nada e nem ria de coisa alguma, para fazerem bela figura. O escudeiro tentará envolver Inês com uma conversa falsa e doce. Através de um aparte do moço, chamado Fernando, sabe-se que Brás não possui nada e que há muito não lhe paga.
Ao chegar, Brás mostra-se o homem galanteador e discreto que Inês esperava: Certo os anjos a pintaram/ Deus vos salve, fresca rosa; mui graciosa donzela. Ele expõe todos os seus predicados: Sei bem ler; e muito bem escrever/ e bom jogador de bola/ e quanto tanger viola, logo me ouvireis tanger.
O moço canta “Mal me quieren em Castilha”; os judeus tentam incentivar Inês a aceitá-lo de qualquer forma, desempenhando de forma intensa sua função de corretores do amor. A mãe, por outro lado, procura mostrar a filha que não seria uma boa opção tal casamento, mas a menina é teimosa: Que tendes de ver com isso?/Todo o mal há de ser meu.
Inês decide-se pelo casamento. A mãe, a contragosto, acata a decisão da filha, buscando rapazes e moças para fazerem a festa. Brás lamenta não estar mais solteiro para poder se esbaldar também com a farra. Em resposta a Inês, que não gostara da observação do escudeiro, esse diz que casamento é cativeiro.
A mãe resolve dar a casa aos noivos, indo morar em outra menor. Inês começa então a cantar, mas é repreendida duramente pelo marido, que dá as primeiras mostras de ser cruel: Vós não haveis de falar/ com homem nem mulher que seja/ nem somente ir a igreja/ não vos quero eu deixar/ já vos preguei as janelas/ por que vos não ponhais nela/ estareis aqui encerrada/ nesta casa tão fechada/ como freira de Ouvidelas. Perguntando ao marido o porque de tal comportamento, recebe Inês a resposta de que ela mesma desejava discrição e agora a tinha.
O escudeiro resolve ir para terras longínquas para tornar-se cavaleiro, deixando o moço seu empregado para cuidar de Inês, bem trancada em casa. Sozinha, então, Inês atinge a consciência, a sabedoria que sua mãe tanto desejara lhe dar.
Logo chega uma carta informando que Brás da Mata fora morto por um pastor mouro, quando fugia de uma batalha nas proximidades de Arzila. Ela alegra-se sobremaneira, mal contendo a sua felicidade: Agora quero tomar/ para boa vida gozar/um muito manso marido/ não no quero já sabido.
Chega novamente a alcoviteira Lianor Vaz e Inês finge estar triste e desolada. A fofoqueira faz várias perguntas e depois diz que Pero Marques ainda está só e é herdeiro de uma fazenda de mil cruzados. Inês pede a Lianor que vá atrás dele imediatamente.
Lianor chega com Pero Marques e sem mais delongas os dois ficam noivos e comprometidos. Ao contrário do esposo anterior, Pero deixa Inês ir e vir, quando e onde quiser. Aliás, a primeira coisa que Inês pede a Pero é a permissão para sair. Rapidamente ela encontra um ermitão que lhe desejara na tenra juventude, e que justamente por ser tão nova, não lhe correspondera. Ela lhe dá uma esmola. Sendo convidada para ir a ermida em que reside o religioso, ela aceita e se despede. Chama novamente o marido e propõe que ambos caminhem até a morada do ermitão em romaria, sugestão prontamente aceita pelo bom esposo. Inês quer que o marido a carregue nas costas para não se molhar durante a travessia de um riacho. Ela lembra ao marido de também levarem duas lousas para carregar jarras (possivelmente para carregar água). Para se divertirem durante o trajeto, Inês começa a cantar, ao que o prestimoso marido deve responder: “Pois assim se fazem as cousas.”
Pero Marques não percebe a traição da mulher com um falso religioso e, na cena final da farsa, leva a própria esposa para os braços do amante, daí a frase: “mais quero um asno que me leve que cavalo que me derrube”.
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