OS LUSÍADAS
LUIS VAZ DE CAMÕES
CANTO
I
Depois do
Concílio dos Deuses, a armada de Vasco da Gama chega a Moçambique onde pára
para se abastecer. Aí recebe a bordo da nau alguns Mouros da Ilha. O Régulo,
isto é, o chefe da Ilha, é recebido por Vasco da Gama.
O Mouro,
quando verifica que os Portugueses eram Cristãos, inspirado por Baco, resolve
destruí-los. Quando Vasco da Gama desembarca na ilha‚ é atacado
traiçoeiramente, mas com a ajuda dos marinheiros portugueses consegue vencer os
mouros. Após o triunfo, Vasco da Gama recebe a bordo um piloto, que recebera
ordens para levar os portugueses a cair numa cilada em Quíloa. Quando a armada
se aproximava de Quíloa, Vénus, que descobrira a traição de Baco, afasta a
armada da costa por meio de ventos contrários, anulando assim a traição. O
piloto mouro tenta outras vezes aproximar a armada da costa para a destruir,
mas Vénus está atenta e impede que isso aconteça. Entretanto os portugueses
continuam a viagem para Norte e chegam a Mombaça, cujo rei fora avisado por
Baco para receber os portugueses e os destruir .
CANTO
II
O rei de
Mombaça convida a armada portuguesa a entrar no porto a fim de a destruir.
Vasco da Gama, por medida de segurança, manda desembarcar dois condenados
portugueses, encarregados por ele de obterem informações acerca da terra. Baco
disfarça-se de sacerdote cristão. Os dois portugueses são levados à casa onde
ele se encontra e vêem em Baco um sacerdote cristão junto a um altar onde se
representavam Cristo e os Apóstolos. Quando os portugueses regressam à armada, dão informações falsas a Vasco da
Gama, convencidos de que estavam entre gente Cristã. Vasco da Gama resolve
entrar com a armada no porto de Mombaça. Vénus apercebe-se do perigo e, com a
ajuda das Nereides, impede os barcos de entrar no porto. Perante o espanto de
todos, apesar do vento empurrar os barcos em direcção à cilada, eles não
avançam. O piloto mouro e os companheiros que também tinham sido embarcados na ilha
de Moçambique, pensando que os seus objectivos tinham sido descobertos, fogem
precipitadamente lançando-se ao mar, perante a admiração de Vasco da Gama, que
acaba por descobrir a traição que lhe estava preparada e à qual escapou
milagrosamente.
Vasco da Gama
agradece à Divina Guarda o milagre concedido e pede-lhe que lhe mostre a terra
que procura. Vénus, ouvindo as suas palavras, fica comovida e vai ao Olimpo
queixar-se a Júpiter pela falta de protecção dispensada pelos deuses aos
Portugueses. Júpiter fica comovido e manda Mercúrio a terra para preparar uma
recepção em Melinde aos Portugueses e inspirar a Vasco da Gama qual o caminho a
seguir. A armada continua a viagem e chega a Melinde, onde é magnificamente
recebida. Vasco da Gama envia um embaixador a terra e o rei acolhe-o
favoravelmente.
Após várias
manifestações de contentamento em terra e na armada, o rei de Melinde visita a
armada portuguesa.
CANTO
III
O narrador
começa por invocar Calíope, musa da poesia épica, para que lhe ensine o que
Vasco da Gama contou ao rei de Melinde. A partir daqui o narrador passa a ser
Vasco da Gama. Segundo ele, não contará história estranha, mas irá ser obrigado
a louvar os seus, o que, segundo ele, não será o mais correcto. Por outro lado,
receia que o tempo de que dispõe, por mais longo que seja, se torne curto para
tantos e tão grandiosos feitos. Mas obedecerá ao seu pedido, indo contra o que
deve e procurando ser breve. E, para que a ordem leve e siga, irá primeiro
tratar da larga terra e, em seguida, falará da sanguinosa guerra.
Após
a descrição da Europa, Vasco da Gama fala das origens de Portugal, desde Luso a Viriato, indicando também a situação
geográfica do seu país relativamente ao resto da Europa. A partir da estância
23, começa a narrar a História de Portugal desde o conde D. Henrique até D.
Fernando, último rei da primeira dinastia.
Os
principais episódios narrados dizem respeito aos reinados de D. Afonso
Henriques e a D. Afonso IV.
Relativamente
ao primeiro rei de Portugal, refere as diferentes lutas travadas por ele:
contra sua mãe, D. Teresa, contra D. Afonso VII e contra os mouros, para
alargamento das fronteiras em direcção ao sul.
São de destacar os episódios referentes a Egas Moniz (estâncias 35-41) e
a Batalha de Ourique (estâncias 42-54).
No
reinado de D. Afonso IV, destacam-se os episódios da formosíssima Maria, em que
sua filha lhe vem pedir ajuda para seu marido, rei de Castela, em virtude de o
grão rei de Marrocos ter invadido a nobre Espanha para a conquistar; o episódio
da batalha do Salado, em que juntos os dois Afonsos vencem o exército árabe; e,
finalmente, o episódio de Inês de Castro, a mísera e mesquinha que depois de
morta foi rainha.
CANTO
IV
O
canto IV começa por referir o interregno que se seguiu à morte de D. Fernando,
entre 1383-85, e, em seguida, foca o reinado de D. João I, apresentando-nos os
preparativos para a guerra com Castela, a figura de D. Nuno Alvares Pereira, o
seu insurgimento contra aqueles que se colocaram ao lado de Castela, entre os
quais se contam os seus próprios irmãos, e a Batalha de Aljubarrota, que opôs
D. João I de Portugal a D. João I de Castela. Em seguida, é narrada a conquista
de Ceuta e o martírio de D. Fernando, o Infante Santo.
São
a seguir apresentados os reinados a seguir a D. João I, entre os quais os de D.
Afonso V e de D. João II. No reinado de D. Manuel I, é apresentado o seu sonho
profético (estâncias 67-75). D. Manuel I confia a Vasco da Gama o descobrimento
do caminho marítimo para a Índia e é-nos depois apresentada a partida das naus,
com os preparativos para a viagem, as despedidas na praia de Belém e,
finalmente, o episódio do velho do Restelo, no qual um velho de aspecto
venerando critica os descobrimentos, apontando os seus inconvenientes e
criticando mesmo o próprio rei D. Manuel I, que deixava criar às portas o inimigo, no Norte de África, para
ir buscar outro tão longe, despovoando-se o reino e enfranquecendo-o
consequentemente.
CANTO
V
Vasco da Gama,
que continua a sua narração ao rei de Melinde, apresenta agora, no começo deste
canto, a largada de Lisboa e o afastamento da armada até ao desaparecimento no
horizonte da fresca serra de Sintra. A viagem prossegue normalmente até à passagem do Equador, momento a partir do
qual Vasco da Gama refere diversos fenómenos meteorológicos, tais como súbitas
e medonhas trovoadas, o fogo de Santelmo e a tromba marítima (estâncias 16-23).
Chegados à ilha de Santa Helena, os portugueses
contactam com um nativo, a quem oferecem vários objectos. Crendo haver
conquistado a confiança dos nativos, Fernão Veloso aventura-se a penetrar na
ilha de Santa Helena. A certa altura, surge a correr a toda pressa, perseguido
por vários nativos, tendo Vasco da Gama de ir em seu socorro, travando-se uma
pequena luta entre eles, da qual saiu Vasco da Gama ferido numa perna.
Regressados
aos barcos, os marinheiros procuram gozar com Fernão Veloso, dizendo-lhe que o
outeiro fora melhor de descer do que subir. Este, sem se desconcertar,
respondeu-lhes que correra à frente dos nativos por se ter lembrado que os
companheiros estavam ali sem a sua ajuda (estâncias 24-36).
Junto
ao Cabo das Tormentas, ocorre o episódio do Gigante Adamastor (estâncias
37-60), o qual faz diversas profecias aos portugueses e, em seguida,
interpelado por Vasco da Gama, conta a sua história.
Vasco
da Gama relata o resto da viagem até Melinde, tendo referido também a mais crua
e feia doença jamais por ele vista: o escorbuto. O canto termina com os elogios
feitos pelo Gama à tenacidade portuguesa e com a invectiva do poeta contra os
portugueses seus contemporâneos por desprezarem a poesia e a técnica que lhe
corresponde.
CANTO VI
Após
as festas de despedida, a armada larga de Melinde para prosseguir a viagem até
à Índia, levando a bordo um piloto melindano. Entretanto Baco desce ao palácio
de Neptuno, a fim de incitar os deuses marinhos contra os portugueses, pois
vê-os quase a atingir o império que ele tinha na Índia. Baco é recebido por
Neptuno no seu palácio e explica-lhe os motivos da sua vinda.
Por
ordem de Neptuno, Tritão vai convocar todos os deuses marinhos para o concílio.
Assim que se encontram todos reunidos, Baco profere o seu discurso,
apresentando honesta e claramente as razões da sua presença. As lágrimas
interrompem-lhe a dado momento as palavras, fazendo com que de imediato todos
os deuses se inflamassem tomando o seu partido. Neptuno manda a Eolo recado
para que solte os ventos, gerando assim uma tempestade que destrua os
portugueses (estâncias 6-37).
Sem
nada pressentirem, os portugueses contam histórias para evitarem o sono, entre
as quais a dos Doze de Inglaterra (estâncias 43-69). Quando se apercebem da
chegada da tempestade, a fúria com que os ventos investem é tal que não lhes dá
tempo de amainar as velas, rompendo-as e quebrando os mastros. É tal a fúria
dos elementos que nada lhes resiste. As areias no fundo dos mares vêem-se
revolvidas, as árvores arrancadas e com as raízes para o céu e os montes
derribados. Na armada a situação é caótica. As gentes gritam e vêem perto a perdição,
com as naus alagadas e os mastros derribados. Vendo-se perdido, Vasco da Gama
pede ajuda à Divina Guarda.
Vénus
apercebe-se do perigo em que os portugueses se encontram e, adivinhando que se
trata de mais uma acção de Baco, manda as Ninfas amorosas abrandarem as iras
dos ventos. Quando a tempestade se acalma (estâncias 70-85), amanhecia e o
piloto melindano avista a costa de Calecut. O canto termina com a oração de
agradecimento de Vasco da Gama e com uma reflexão do poeta acerca do verdadeiro
valor da glória.
CANTO VII
Os
portugueses, que tinham chegado à Índia ainda no Canto VI (estância 92), agora,
na primeira estrofe do Canto VII entram na barra de Calecut. Na estrofe 2, o
narrador faz o elogio do espírito de cruzada luso e exorta as outras nações
europeias a seguirem o exemplo dos Portugueses na luta contra os infiéis
(estâncias 2 a 15). Uma vez chegados a terra, pescadores em leves embarcações
mostram aos portugueses o caminho para Calecut, onde vive o rei da Índia. Das
estâncias 17 a 22, é feita a descrição da Índia e apresentados os primeiros
contactos com Calecut. Vasco da Gama avisa o rei da sua chegada e manda a terra
o degredado João Martins. Este mensageiro encontra o mouro Monçaide, que já
estivera em Castela e sabia quem eram os portugueses, ficando muito admirado
por os ver tão longe da pátria. Convida-o a ir a sua casa, onde o recebe e lhe
dá de comer. Depois disto, Monçaide e o enviado regressam à nau de Vasco da
Gama. Monçaide visita a frota e fornece elementos acerca da Índia. Algum tempo
depois, Vasco da Gama desembarca com nobres portugueses, é recebido pelo
Catual, que o leva ao palácio do Samorim. Após os discursos de apresentação, o
Samorim recebe os portugueses no seu palácio. Enquanto estes aqui permanecem, o
Catual procura colher informações junto de Monçaide acerca dos portugueses e,
em seguida, visita a nau capitaina, onde é recebido por Paulo da Gama, a quem
pergunta o significado das figuras presentes nas bandeiras de seda. Das
estâncias 77 até ao fim do Canto VII, Camões invoca as ninfas do Tejo e também
as do Mondego, queixando-se dos seus infortúnios.
CANTO
VIII
Paulo
da Gama continua a explicar o significado das figuras nas bandeiras portuguesas
ao Catual, que se mostra bastante interessado,
fazendo várias perguntas.
Após
a visita, o Catual regressa a terra. Por ordem do rei da Índia (estâncias 45 a
46) os Arúspices fazem sacrifícios, porque adivinham eterno cativeiro e
destruição da gente indiana pelos portugueses.
Entretanto,
Baco resolve agir contra os portugueses. Aparece em sonhos a um sacerdote árabe
(estâncias 47 a 50) incitando-o a opor-se aos portugueses. Quando acorda, o
sacerdote maometano instiga os outros a revoltarem-se contra Vasco da Gama.
Vasco
da Gama procura entender-se com o Samorim, que, após violenta discussão, ordena
a Vasco da Gama que regresse à frota, mostrando-lhe o desejo de trocar fazendas
europeias por especiarias orientais.
Subornado
pelos muçulmanos, o Catual impede o cumprimento das ordens do Samorim e pede a
Vasco da Gama que mande aproximar a frota para embarcar, com o intuito de a
destruir. Vasco da Gama, astuto e desconfiado, não aceita a proposta, sendo
preso pelo Catual.
Com
o receio de ser castigado pelo Samorim, por causa da demora, o Catual apresenta
nova proposta a Vasco da Gama: deixa-o embarcar, mas terá de lhe dar em troca
fazendas europeias. Vasco da Gama aceita e regressa à frota, depois de ter
entregue as mercadorias pedidas. O canto acaba com as reflexões do poeta acerca
do poder do «metal luzente e oiro».
CANTO IX
Dois
feitores portugueses são encarregados de vender as mercadorias, mas são detidos
em terra, para retardar a partida da armada portuguesa, a fim de dar tempo a
que uma armada muçulmana viesse de Meca para a destruir.
O
Gama é informado disso pelo árabe Monçaide e, por isso, decide partir,
procurando fazer com que os dois feitores portugueses regressem secretamente à
armada, mas não consegue o que pretende. Como represália, impede vários
mercadores da Índia de regressarem a terra e, tomando-os como reféns, ordena a
partida.
Por
ordem do Samorim, são restituídos a Vasco da Gama os dois feitores portugueses
e as fazendas, após o que se iniciou o regresso a casa (estâncias 13 a 17).
Vénus
decide preparar o repouso e prémio para os portugueses (estâncias 18 a 21).
Dirige-se, com esse objectivo, a seu filho Cupido (estâncias 22 a 50), e manda
reunir as Ninfas numa ilha especialmente preparada para os acolher.
A
«Ilha dos Amores», cuja descrição se apresenta nas estâncias 52 a 55, era uma
ilha flutuante que Vénus colocou no trajecto da armada, de modo a que esta,
infalivelmente, a encontrasse.
Os
portugueses desembarcaram na ilha e as Ninfas deixam-se ver, iniciando-se uma
perseguição. Para aumentar o desejo dos portugueses, as Ninfas opuseram uma
certa resistência, apenas se deixando apanhar ao fim de algum tempo,
efectuando-se, então, o «casamento» entre elas e os marinheiros.
Tétis,
a maior, e a quem todo o coro das Ninfas obedecia, apresentou-se a Vasco da
Gama, recebendo-o com honesta e régia pompa. Depois de se ter apresentado e
dado a entender que ali viera por alta influição do Destino, tomando o Gama
pela mão, levou-o para o seu palácio, onde lhe explicou (estâncias 89 a 91) o
significado alegórico da «Ilha dos Amores»: as Ninfas do Oceano, Tétis e a Ilha
outra coisa não são que as deleitosas honras que a vida fazem sublimada.
O
Canto IX termina com uma exortação dirigida aos que aspiram a imortalizar o seu
nome.
CANTO X
Tétis
e as restantes ninfas oferecem um banquete aos navegantes e durante ele uma
ninfa começa a descrever os futuros feitos dos portugueses. Entretanto
(estâncias 8-9) o poeta interrompe-lhe a descrição para invocar uma vez mais
Calíope. Finda a invocação, a ninfa retoma o seu discurso, falando dos heróis e
futuros governadores da Índia.
A
partir da estância 74, onde acaba a prolepse (avanço no tempo, ou seja,
previsão de factos futuros), Tétis conduz Vasco da Gama ao cimo de um monte,
onde lhe mostra uma miniatura do Universo e descobre, no orbe terrestre, os
lugares onde os portugueses irão praticar altos feitos. Dentro das várias
profecias, Tétis narra o martírio de S. Tomé e faz referência ao naufrágio de
Camões. Finalmente, Tétis despede os portugueses, que embarcam para
empreenderem a viagem de regresso (estâncias 142-143), cuja viagem se efectua
com vento sempre manso e favorável, chegando
à foz do Tejo sem quaisquer problemas (estância 144).
Das
estâncias 145 a 156 são apresentadas lamentações, exortações a D. Sebastião e
vaticínios de futuras glórias.
Nenhum comentário:
Postar um comentário