Gil Vicente



A biografia de Gil Vicente ainda permanece em mistério. Na há provas definitivas que possam estabelecer com segurança sua identidade. Calcula-se que tenha nascido por volta de 1465 e falecido em 1537, porque é a partir desta data que se deixa de encontrar qualquer referência ao seu nome nos documentos da época.
       O seu primeiro trabalho, a peça em castelhano Auto da Visitação, também conhecida como Monólogo do Vaqueiro, foi representada nos aposentos da rainha D. Maria de Castela, consorte de Dom Manuel, para celebrar o nascimento do futuro rei de Portugal, D. João III, na noite de 8 de Junho de 1502, com a presença, além do rei e da rainha, de Dona Leonor, viúva de D. João II e D. Beatriz, mãe do rei. A interpretação entusiasmou a corte, que lhe pediu a repetição na passagem do Natal. A partir de então, protegido pela rainha, Gil Vicente produziu 44 peças de teatro,
 no decorrer de 34 anos.
Gil Vicente criticou toda a sociedade da época; suas peças apresentam indivíduos de todas os segmentos sociais. É importante destacar que todo o moralismo não é contra a religião, mas contra os indivíduos que a corrompiam. Seus autos representam uma tentativa de resgate da integridade que se perdia través da corrupção, do adultério e da ambição.
A linguagem da obra vicentina é coloquial, simples, de fácil entendimento, pertinente ao público para quem ele se dirigia. Observa-se, às vezes, o uso de palavrões, com sentido satírico praticando, portanto, o baixo calão. O uso da ironia e humor é muito evidente para realizar a crítica social. A intenção do autor era educar através do riso.
A proposta de Gil Vicente era a realização de um painel social, isto é, o estudo do indivíduo e da sociedade, através do retrato de tipos humanos (tipos característicos de um grupo social, como: padres, beatas, adultérios, profissionais liberais, nobres).
O tipo humano mais atacado em sua obra é o frade, que se deixa corromper pelas seduções do mundo. Por outro lado, o tipo humano que Gil Vicente defendia era o camponês (o lavrador) que representava o povo vítima de exploração social.
Outro elemento importante na sua obra é a inclinação poética, pois suas peças foram escritas em redondilhas (cinco ou sete sílabas poéticas) rimados.

A produção teatral de Gil Vicente divide-se em três fases:
Primeira Fase – marcada pelos traços medievais e pela influência espanhola de Juan del Encina. São desta fase: O Monólogo do Vaqueiro, o Auto Pastoril Castelhano, etc.
Segunda Fase – aparecem a sátira dos costumes e a forte crítica social. São desta fase: O Velho da Horta, Auto da Índia e outros.
Terceira Fase – aprofundamento da crítica social através da tragicomédia alegórica, da variedade temática e lingüística, é o período da maturidade expressiva. São desta fase: A Trilogia das Barcas e Farsa de Inês Pereira,

OBRAS: Monólogo do Vaqueiro ou Auto da Visitação (1502); Auto Pastoril Castelhano (1502); Auto dos Reis Magos (1503); Auto de São Martinho (1504); Quem Tem Farelos? (1505); Auto da Alma (1508); Auto da Índia (1509); Auto da Fé (1510); O Velho da Horta (1512); Exortação da Guerra (1513); Comédia do Viúvo (1514); Auto da Fama (1516); Auto da Barca do Inferno (1517); Auto da Barca do Purgatório (1518); Auto da Barca da Glória (1519); Cortes de Júpiter (1521); Comédia de Rubena (1521); Farsa de Inês Pereira (1523); Auto Pastoril Português (1523); Frágua de Amor (1524); Farsa do Juiz da Beira (1525); Farsa do Templo de Apolo (1526); Auto da Nau de Amores (1527); Auto da História de Deus (1527); Tragicomédia Pastoril da Serra da Estrela (1527); Farsa dos Almocreves (1527); Auto da Feira (1528); Farsa do Clérigo da Beira (1529); Auto do Triunfo do Inverno (1529); Auto da Lusitânia, intercalado com o entremez Todo-o-Mundo e Ninguém (1532); Auto de Amadis de Gaula (1533); Romagem dos Agravados (1533); Auto da Cananea (1534); Auto de Mofina Mendes (1534); Floresta de Enganos (1536).

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